
As pessoas têm medo de serem trocadas. Pronto! Falei! Do emprego ao lugar que imaginam ter. Na exigência constante do fast food da vida aliada à uberização, tudo se sucateou. Mas, a coluna principal do nosso sistema de mercado é que todos podem ser substituídos a qualquer momento. O estresse da substituição possível por quaisquer motivos é o colapso do ser humano. Exige-se a todo instante uma alta performance, o melhor de si a tal ponto que as pessoalidades ficam de lado até a exaustão.
Aqui é preciso trazer o capital humano, o empresário de si que o filósofo Michael Foucault tanto descreve para nos encarar. Somos este sujeito que estamos nos vendendo e nos defendendo o tempo todo. Somos produtos incansáveis que, claro, chegamos a todo tipo de esgotamento e ao famoso Burnout. A pegadinha diária corrompida pelo acesso online constante é o que chamo de famoso “Disdis”(disponível e disposto).
Com certeza você já ouviu isso como crítica para si mesmo… É nossa “obrigação” estarmos disponíveis e dispostos para o serviço, para o “patrão” e para quem tem acesso a nós, ai da gente se não responder no cardápio infinito das opções diretamente, indiretamente ou chafurdando nos nossos pensamentos paira o “posso ser trocado”. Dando um pulinho até o sul-coreano-alemão, Byung-Chul Han, filósofo do agora fica evidente o sofrimento psicoemocional proposital causado pelo mercado de trabalho. No artigo da Flávia Andrade Almeida, do Le Monde Diplomatique Brasil, ela traz a base de Foucault e de Han. Trago um trecho destacado por ela. “A coação do desempenho força-o a produzir cada vez mais. Assim, jamais alcança um ponto de repouso da gratificação. Vive constantemente num sentimento de carência e de culpa”.
Em resumo, tentamos nos superar até não aguentar mais. É mais um fruto podre da colonização. A imposição da cultura estrangeira, do “melhor” externo, traz uma constante “Síndrome do Vira-lata” entranhada no subconsciente coletivo ao mesmo tempo que se finge publicamente combater esta coação estrangeira. A estratégia do invasor é diminuir o invadido já afetado pela perda de ser conquistado. Veja que a palavra conquista entra em diversas situações como positiva, mas é sempre de apropriação e propriedade que estamos falando quando a usamos.
Marcien Towa, em sua obra "Identité et Transcendence” deixa ainda mais evidente a situação. Filósofo africano, fala com propriedade que nossa identidade e transcendência não são queridas, não são acionadas, são descartadas para seguirmos o padrão robótico da superação de si e do que fazemos diariamente. A “cultura universal” coloca em caixas as filosofias como étnicas e culturais se forem fora do eixo europeu-estadunidense. Por isso, eu sempre volto para África, origem da humanidade.
Já escrevi e falei em outras publicações sobre um dos principais motivos do apagamento da identidade africana, a coletividade e generosidade de povos tão avançados como o do continente africano. Towa pensa, basta da um Google e verá, que a verdadeira identidade não reside na busca por uma essência permanente, única e sem mudanças. Para ele, ser quem deveríamos ser, está na capacidade de transcender este nós individualista europeu para nos reinventarmos sempre que necessário.
Minha proposta é passar um tempo real com a gente mesmo e começar a reinvenção deste nosso eu.

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