A deflagração da Operação Contenção nos complexos da Complexo do Alemão e da Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, mobilizou cerca de 2.500 agentes da polícia civil e militar, além do Batalhão de Operações Especiais (Bope). O resultado preliminar aponta para 64 mortos, entre eles dois policiais civis e dois do Bope, 81 presos, além de 11 feridos, incluindo agentes e moradores da região. A operação já é considerada a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro.
As imagens que chegaram da manhã desta terça-feira retratam um cenário de guerra: barricadas em chamas, uso de drones para lançar explosivos contra equipes policiais e ruas inteiras bloqueadas por barricadas improvisadas pela facção Comando Vermelho, alvo da operação. Em nota, o governo estadual afirmou que o arsenal apreendido inclui mais de 75 fuzis, além de pistolas e granadas — o que, para sua avaliação, justifica o grau extremo da ação.
No entanto, a ofensiva tem gerado forte reação. O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou ofícios cobrando explicações detalhadas sobre a operação e seu planejamento. A comissão de direitos humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), por sua vez, classificou a ação como “banho de sangue” e exigiu mais transparência.
Governo do RJ cobra Governo Federal
O governador Cláudio Castro manifestou publicamente que o Estado está “sozinho nessa guerra” e cobrou o governo federal por falta de apoio. Segundo ele, pedidos por blindados foram negados e, por isso, o Rio decidiu seguir sozinho. Ele afirmou: “Não temos ajuda das forças de segurança federais, nem da Defesa. É o Rio sozinho.”
Governo Federal rebate
Em resposta, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que “tem atendido, prontamente, todos os pedidos do governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional” desde 2023. Em nota, o ministro Ricardo Lewandowski disse que 11 solicitações foram todas acatadas, com operações e prisões em curso. Essa divergência de versões evidencia a disputa política que se instaurou em paralelo aos confrontos.
Operação e seus impactos
A retirada de circulação de lideranças aparentemente vinculadas ao Comando Vermelho e a descoberta de um arsenal pesado são pontos destacados como vitórias da ação. A mobilização inclui fechamento de escolas e suspensão de aulas em várias unidades pela manhã. Por outro lado, moradores relatam intenso tiroteio, medo generalizado e interrupção de serviços públicos, o que acentua críticas quanto à proporcionalidade da força empregada.
Por que essa operação é histórica
Segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado, essa já supera as operações anteriores em número de mortos. Por exemplo, a operação de 2021 no Jacarezinho deixou 27 mortos. O governo estadual também reconheceu que a escala da operação extrapola competências típicas de segurança pública estadual e trata o conflito como se fosse uma “guerra”.
MPF cobra respostas do governo do RJ
Após as mortes e as denúncias de excessos, o MPF cobra do governo estadual um relatório completo sobre a operação, incluindo justificativas para o número elevado de vítimas. Entidades de direitos humanos pedem a presença de observadores independentes nas próximas ações e investigação sobre eventuais abusos. Enquanto isso, o clima de tensão permanece nas comunidades, e o debate político entre o governo estadual e o federal promete se intensificar nos próximos dias.
Fonte: Redação Raiz | Imagens: Reprodução/Redes Sociais
Comentários: